quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Razão e Sensibilidade


Razão e Sensibilidade
“Ser ou não ser, eis a questão!”
Eu digo: - Saber é a questão!
É esse o tema do presente artigo que vai abordar um dos dois grandes capítulos da Filosofia, que é o que trata da Gnosiologia. Por um momento, deixemos a Ontologia. Para depois retomá-la em seu ramo metafísico. Assim chegamos a um ser que existe, que esse ser quer saber e quer conhecer a realidade.
Segue-se uma modesta reflexão.
Platão ou Aristóteles? Corpo ou Alma? Ciência ou Filosofia? Razão ou Experiência? Quem mais brilhantemente abordou a questão foi Immanuel Kant (1724-1804) que dedicou sua vida a desafios filosóficos. Dentre eles, estava o de estabelecer as origens do conhecimento, os limites do saber e se, realmente, somos capazes de conhecer a realidade.
A chamada Era da Modernidade inaugurada com René Descartes (1596-1650) trouxe a possibilidade de conhecer a verdade. Descartes afirmava que, para se chegar ao conhecimento verdadeiro é preciso colocar todos os nossos conhecimentos em dúvida, sob suspeita.
Ao estabelecer o processo metódico da dúvida, Descartes desconsiderou todas as percepções sensoriais, todos os conceitos formados sobre os objetos materiais. Além de duvidar da própria realidade e do teor dos pensamentos que criamos. A única coisa de que não se pode duvidar é que o pensamento existe.
Assim, o Racionalismo e Descartes nos ensinaram que o conhecimento das coisas externas deve ser obtido pelo trabalho lógico da mente com seus raciocínios.
Mas, surge outra corrente, que inclui algo novo, chegam os empiristas ingleses e dizem ao inusitado, pois até o momento não se falava na experiência sensorial.
O Empirismo, advindo dos filósofos ingleses, estabelece que, o conhecimento se dá através de nossas experiências. Para eles, podia se eliminar toda a noção de idéia inata, por ser a mesma muito imprópria e incompreensível.
Os empiristas, dessa forma, consideraram que o conhecimento provinha de nossa percepção do mundo externo ou uma análise daquilo que captamos feita pela nossa mente.
Nesse impasse, brilha a genialidade conciliatória ou crítica de Immanuel Kant (1724-1804) com suas obras. Foi a chamada Era dos Iluministas, onde reinava o esclarecimento numa atitude crítica.
Kant distanciou-se dos sistemas racionalistas, por reconhecer os limites da razão. E, mostrou que, sem a consciência desse limite, a razão se torna onisciente e onipotente, perdendo o vínculo com a liberdade e se tornando irracional.
Para Kant, o conhecimento se efetiva no instante em que as percepções e os conceitos são reunidos sob a forma de uma afirmativa ou de uma negativa, compondo um juízo. Antes desse juízo, não havia nenhuma operação determinante de raciocínio.
Os juízos chamados por ele de analíticos e sintéticos ( a priori e a posteriori) irão tanto aumentar o nosso conhecimento como esclarecer nossos conceitos.
Segundo Kant, é impossível conhecermos as coisas tais como são, ou seja, as coisas em si mesmas. O homem conhece aquilo que pode perceber das coisas.
Em suma, o conhecimento não se dá nem pelo sujeito nem pelo objeto, mas pela relação estabelecida entre essas partes. O que captamos das coisas são os fenômenos característicos das coisas que podem ser diferentes das coisas em si.
Assim, creio que a melhor forma de conciliar Racionalismo e Empirismo seria atribuindo mais importância à experiência sensível, fenomenológica, e, simultaneamente, desmistificando o poder absoluto da razão para que tenhamos um conhecimento, mesmo que limitado da realidade.
Alguns dilemas estão fadados a acompanhar o ser humano por toda a sua existência. São, deveras, enigmáticos e intangíveis para terem, unanimemente, uma abordagem única e aceitável pelos pensadores.
Ouso dizer que não deveriam ser conciliados por serem de origem contrária, mas poderiam sim ser unidos e interligados. Onde um fica obscuro, o outro esclarece. Onde um termina, o outro se inicia.
Enfim, para que a riqueza de suas proposituras sejam respeitadas e conservadas, esses dilemas só poderiam ser somados um ao outro.
Genialidades para a sua existência para tentar elucidar a questão. Com profundo respeito e admiração ao labor filosófico, resta-me conciliar as duas correntes epistemológicas entrelaçando-as e reverenciando ambas.


Salete Micchelini

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Desafios atuais de um professor



Desafios sempre fizeram parte da atividade profissional do professor. Não podemos afirmar se eles aumentaram ou diminuíram, pois o maior desafio é sempre o que temos pela frente.
Transformações e mudanças acompanham todas as realizações humanas. Assim sendo, não é apenas o profissional da Educação que as está enfrentando. Toda a sociedade, seus organismos e instituições, seguem uma corrente incessante de transformações inevitáveis e têm que se adaptar aos novos rumos. È a força do processo de evolução histórica da sociedade humana.
Cabe ao professor estar atento a realidade, ou seja, estar ligado a todos os impasses do mundo atual para saber se situar, se posicionar diante deles e visualizar um futuro melhor. O mestre Paulo Freire nos deixou dentre seus ensinamentos, a importância do comprometimento do profissional da Educação com as transformações sociais.
Diz a educadora chilena Sara López Escalona, em suas sábias palavras: “Só se a educação for um fator de mudança social positiva no aspecto humano é que será também mudança positiva no social. A mudança tem que ser procurada e iniciada no interior do homem. Somente o homem – enquanto tal – salvará o homem!”
Retorno a Paulo Freire, quando nos ensinava a reeducação de nosso olhar pedagógico. Dirigi-lo para os sujeitos humanos e para as suas condições de humanização. Reeducar nosso olhar sobre a infância, a adolescência e sobretudo, sobre nós mesmos. Enquanto reeducamos nosso olhar pelos outros, estaremos também nos reeducando.
Fica aí uma grande lição, o ser humano se forma como espécie na luta constante por sua própria humanização e conhecimento.
A volta do olhar humanizador aparece como uma saída possível para os efeitos negativos da industrialização e da globalização. Diante da fragmentação gerada pela quantidade e pela velocidade da informação, como também, da escassez de tempo para se estabelecer vínculos, é para a Educação que se renovam as esperanças de se preservar a integridade do ser humano através dos valores afetivos e solidários.
Salete Micchelini

Novos paradigmas filosóficos e científicos - Revolução Científica




No período compreendido pelos séculos XV, XVI e XVII, a Europa passou por transformações radicais. Mudaram-se as estruturas sociais, as produções artísticas, as convicções religiosas, os poderes políticos, as atividades econômicas com novas concepções filosóficas e novos saberes chamados científicos.
A expansão marítima ampliou a Cartografia existente e os horizontes terrestres. Uma nova classe social emergia e se firmava com domínio econômico.
Todo o conhecimento existente pedia um novo ordenamento, pois as verdades aceitas até então, estavam totalmente desmoralizadas ou sob suspeitas. Nas Universidades, um saber voltado para o homem veio a calhar com toda essa mudança.
Foi nesse contexto que se alteraram os paradigmas filosóficos e científicos para outros inovadores contornos.
“Foi uma época que exigia gigantes e forjou gigantes pela força do pensamento, pela paixão e caráter, pela universalidade e erudição.” (Engels).
A renovação do pensamento intelectual iniciou-se na Itália em meados do século XIV e atingiu seu apogeu no século XVI. O mundo medieval, marcado por dogmas da Igreja, apresentava a visão Teocêntrica da realidade, ou seja, tudo se explicava e se bastava em Deus. Da vontade divina tudo resultava: os fenômenos da natureza, o ordenamento social, as desigualdades de riquezas, de poder, de oportunidades, a predestinação e assim por diante.
À Igreja cabia elaborar e instituir as verdades da época como, por exemplo, quem seriam os eleitos para o reino dos Céus e quem arderia no fogo do Inferno. A Igreja também detinha o monopólio do saber acadêmico e se legitimava como a única representante e interlocutora de Deus na Terra.
Um novo olhar religioso surgiu após a Reforma. Enfraquecida, a Igreja assistiu o surgimento de novas formulações no campo teológico-filosófico, ancoradas nas mudanças político-econômicas que contribuíram para formar um novo parâmetro de conhecimento.
A Europa emergiu do Medieval e entrou no Renascimento. Foi uma transformação radical de consciência e criatividade com a retomada dos grandes nomes da cultura da Antiguidade Clássica. Restauraram-se idéias de todas as áreas do saber, que novamente foram reverenciadas.
Com a conduta pouco sagrada da Igreja cresceu a celebração do indivíduo, era o Humanismo que brotava nas universidades trazendo uma valorização do homem. O homem se volta para si mesmo como parte integrante da natureza, valorizando-se progressivamente. Podia-se assim, acreditar na capacidade humana e nas possibilidades dele intervir na realidade.
Era a visão Antropocêntrica trazendo marcas de individualismo e de racionalismo.Individualismo que advinha da libertação do homem dos dogmas sagrados e forçava-o a competir com seus semelhantes pela sobrevivência, fruto de um mercantilismo comercial. Racionalismo que estava intimamente ligado ao Individualismo, pois para competir e vencer o outro, o homem necessitava crer em si mesmo e utilizar-se de seus atributos intelectuais. Elaborando melhores estratégias, ou seja, colocando a razão como meio de se obter determinado fim.
Foi, justamente, em meio a esse contexto humanista, que aconteceram posturas antiescolásticas e antimedievais de grandes pensadores e intelectuais renascentistas. Em virtude de seus posicionamentos, de suas produções literárias e artísticas, muitos deles foram perseguidos, torturados, excomungados e mortos pela Igreja.
Mas, foi impossível deter a força criativa e filosófica dos gênios, que de forma intensa e audaciosa não se dobrou, nem abriu mão de suas idéias revolucionárias. A capacidade do homem de conhecer e explicar foi maior que a força opressora e assassina do poder.
A crítica humana vinha consistente e bem fundamentada, em relação à visão tradicional, sobretudo no que diz respeito às explicações dos fenômenos naturais e cosmológicos. Já não satisfaziam as respostas centralizadas na vontade de Deus, pois se podia observar, medir, calcular e concluir. A razão começa a abrir novos caminhos e atalhos em busca da compreensão da natureza e dos mistérios do Cosmos.
Daí, esse avanço fazer parte tanto do caráter filosófico como também do avanço científico, pois surgiu dos questionamentos filosóficos.
Houve também uma grande mudança no espaço geográfico terrestre vinda da expansão marítima e da descobertas do novo continente. Os detentores do saber perceberam que, se não conheciam bem a Terra podiam também não conhecer bem o Céu. Isso trouxe dúvidas e impôs uma atitude ainda mais crítica e científica aos sábios. Surge o Heliocentrismo, como uma visão espacial e cosmológica inovadora e passível de cálculos. O olhar para os Céus se modificou com a teoria coperniana. A formulação de Nicolau Copérnico de que o Sol era o centro do Sistema Solar abala e destrói a duvidosa teoria do Geocentrismo que vigorava até então.
Homens de mentes brilhantes não faltaram para formular dúvidas e tentar decifra-las por toda a Europa. Leonardo da Vinci, Bernardino Telésio, Nicolau Copérnico, Johannes Kepler, Tycho Brahe, Giordano Bruno, Galileu Galilei, Francis Bacon, Isaac Newton, René Descartes devem ser citados com destaque, assim como outros importantes colaboradores.
Era a Revolução Científica que se consolidava, forjada no pensamento crítico e filosófico para dar ao mundo uma explicação digna.
Nascia uma nova forma de produzir conhecimento, que pretendia criar um trajeto mais seguro e provável para se chegar a uma verdade.
A Ciência Moderna não foi construída isoladamente, foi, sim, uma construção coletiva, seqüenciada, sofrida e fruto do reflexo de novas estruturas sociais globais ocorridas na sociedade européia que permitiram tal avanço.
A nova concepção científica trouxe uma nova metodologia, uma nova linguagem matemática, muitos critérios de observação, de experimentação e muitos olhares duvidosos no lugar das certezas.
Daí para frente, foram muitos progressos, uma vez que visões alternativas e mecanismos científicos foram surgindo a cada momento, tendo com abertura, as trilhas feitas no século XVII.
Das mudanças de paradigmas filosóficos e científicos ocorridos da Idade Média para a Renascença e, posteriormente, à Modernidade destaca-se a substituição de uma forma obtusa, submissa e contemplativa do homem diante de inquestionáveis verdades do Medievo para um modo de conhecer a realidade mais racional, criterioso e científico na Modernidade.
Nesse novo modelo o homem não só quer conhecer, mas também transformar e interferir na sua real condição no mundo. Exercendo suas potencialidades intelectuais de forma plena e com liberdade de pensamento.
Vale ressaltar que, as novas concepções filosóficas e científicas encontraram uma grande aliada: as novas técnicas de impressão de livros, que difundiram e popularizaram os novos saberes e pensamentos filosóficos.
Salete Micchelini